AMONTOADOS EM HOTEL, HAITIANOS ESPERAM AVAL PARA RECONSTRUÇÃO DAS VIDAS NO BRASIL

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  • 30 de dezembro de 2011
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  • No dia 12 de janeiro de 2010, um pequeno país localizado na América Central foi sacudido por um terremoto de sete graus na Escala Richter. Em terra, a precária infraestrutura da nação mais pobre das Américas não resistiu. A consequência foi o saldo de mais de 300 mil mortes.

    Passados dois anos da tragédia pouca coisa mudou no Haiti. As marcas daquele dia ainda estão expostas, a miséria persiste e a única esperança para o povo está além-mar. Milhares de haitianos têm deixado o país em busca de uma vida melhor em outras partes do continente. O Brasil, em especial, tem sido o destino preferencial deles, sendo o Acre a sua porta de entrada.

    O Brasil e o mundo aos poucos passam a voltar os olhos para Brasileia, a cidade acreana que serve como o porto-seguro depois de uma jornada que atravessa boa parte da América do Sul, enfrentando os mais diversos tipos de adversidades. Doenças, violência e extorsões de autoridades dos países vizinhos são as mais comuns.

    Agazeta.net esteve no último final de semana em Brasileia. Até sábado, 1.118 haitianos estavam na fronteira à espera de receber o visto de imigrantes para poder trabalhar no Brasil. Na noite anterior da chegada da reportagem, oito haitianos se juntaram ao grupo concentrado no Hotel Brasileia.

    É nesta simples hospedagem, típica de cidades do interior, que ao menos oitocentos haitianos espremem-se. O hotel foi alugado pelo governo para abrigá-los; eles são os hóspedes exclusivos. Todos os lugares foram aproveitados: recepção, administração, corredores e banheiros. O ambiente é quente e úmido, sem circulação de vento.

    É no banheiro, localizado no final do corredor, que está Isaque, de quatro meses. A criança nasceu a caminho do Brasil, precisamente no Equador. Seus pais foram vítimas da truculência dos policiais bolivianos. O grupo em que estavam –com mais de 50 pessoas – cometeu o erro de tentar entrar no Brasil pela Bolívia.

    Lá foram roubados e espancados por quem lhes deveria garantir a segurança. Apesar de estarem a poucos metros da Bolívia, eles não ousam passar para o outro lado. Sabem que serão espancados e presos. Enquanto o visto não sai nem conseguem emprego, a distração é passar o dia na Praça Hugo Poli, a mesma onde todos os anos a prefeitura realiza o Carnaval da cidade.

    No coreto central ele passam o dia a jogar dominó. Outros, diante da necessidade de se comunicar com os brasileiros, estudam português. Aqui aprenderam a fazer negócios. O mais lucrativo é vender recargas telefônicas da operadora Tigo, que tem alcance em toda América Latina.

    É através destas linhas que eles mantêm comunicação com os parentes deixados no Haiti. Os cartões são vendidos somente em Cobija. Como não podem atravessar a fronteira, pedem a brasileiros que adquiram as recargas. Compram cada unidade a dez pesos bolivianos e revendem por R$ 3,50.

    Os clientes podem fazer a recarga nas mesas da praça, onde ficam expostos no centro dos grupos de amigos que conversam em crioulo, o idioma do país caribenho. Outro passatempo em Brasiléia é assistir aos programas de televisão. Durante todo o dia ficam comprimidos em frente ao único aparelho (de 20 polegadas) disponível no hotel.

    Sentados na janela ou no balcão da antiga recepção, eles fixam os olhos na programação da Bolívia. Para eles é preferível o espanhol ao português. Mudam para canais brasileiros para ver as reportagens onde eles são os personagens centrais.
    Brasileia tornou-se nas últimas semanas o destino dos principais veículos de comunicação do país e do mundo. O caso já ganhou as manchetes do New York Times e The Guardian.

    Adotados

    Desde a chegada dos primeiros grupos de haitianos o governo do Acre tomou para si a responsabilidade. Tem bancado sozinho a alimentação, hospedagem e oferecimento de serviços básicos como exames e vacinas. No começo eram servidos almoço e janta. Uma determinação do Ministério Público Federal obrigou o Estado a oferecer café-da-manhã.

    São quase três mil marmitas todos os dias e mais de dois mil pães. Com a situação considerada crítica, o Acre foi buscar ajuda em Brasília. O caso não era mais um problema local, mas nacional e o governo federal devia ajudar. Uma das formas é agilizar a liberação dos documentos para que eles possam deixar o Acre.

    São Paulo é a cidade preferida deles. Para eles, é lá que estão as grandes oportunidades de emprego. Eles passam a ser procurados por empresas de todos os Estados. Com a escassez de engenheiros no Brasil, os com formação nas mais diversos segmentos da área estão com empregos garantidos.

    A construção civil é a principal contratante da mão de obra haitiana. A transferência deles para estes locais é custeada ora pelo governo ora pelas próprias empresas. Os canteiros das obras de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, são os mais interessados neles.

    Entre eles há vários tipos de profissionais. Brice Innel é encanador e técnico em informática. Já está regularizado no Brasil e aguarda apenas uma chamada de emprego. A proposta é conseguir dinheiro para trazer a esposa que está na República Dominicana.

    Jacksin Etienne é professor de idiomas. Além do francês (outro idioma do Haiti), tem domínio do inglês, espanhol, alemão e russo. No Brasil pretende trabalhar como guia turístico. Seu objetivo é chegar ao Rio de Janeiro. Com o dinheiro do trabalho quer ajudar a família no país natal. O irmão mais novo sonha em ser jogador de futebol no Brasil.

    Suckson Jean é técnico em eletrônica. Fala espanhol fluentemente e deseja reconstruir a vida por aqui. “Foi um sonho chegar ao Brasil”, diz. Gastou US$ 2,5 mil dólares entre o Haiti e o Acre.
    A maioria dos mais de mil haitianos na fronteira brasileira é composta por homens jovens. O objetivo é um só: conseguir trabalho e buscar os parentes.

    A ligação com o Brasil é forte. “Fomos recebidos de braços abertos”, comemora Jean. A presença de tropas brasileiras no Haiti é uma das razões que justifica a preferência pelo país, mais fatores econômicos. A imagem de potência emergente (tornando-se a sexta economia mundial) é o imã para os imigrantes.

    “Na República Dominicana somos tratados como animais, não nos respeitam como um povo”, afirma Maria Joanita Julian, que antes de embarcar para o Brasil passou alguns meses no país limítrofe com o Haiti. Ela é um caso das marcas daquele 12 de janeiro de 2010: perdeu irmãos, pais e um recém-nascido de seis meses. Ela evita tocar no assunto; quando cria coragem as lágrimas vêm junto.

    Fonte: agazeta

    1 comentários:

    paulo cesar nery disse...

    O brasil e um pais hospitaleiro mas devemos ter muito cuidado pois não sabemos o que estes Haitianos pode trazer com eles chega de forasteiros.

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